domingo, 24 de junho de 2012

Orgulho de ser francófone


Este fim de semana é o fim de semana de mostrar seu orgulho em ser parte da cultura franco-canadense ou franco-americano, além de ser québécois também, entenda um pouco do porque disso.

varanda preparada para la Fête Nationale du Québec
Neste fim de semana prolongado, está sendo comemorado La Fête Nationale du Québec, 23 e 24 de junho, na província de Québec e La Fête de Saint-Jean Baptiste, 24 de junho, nas demais províncias canadenses, principalmente em Ontário, e nas conhecidas como maritimes canadiennes: Nouveau-Brunswick, Nouvelle Écosse, île-du-Prince Edouard, Terre-Neuve et Labrador, todas falantes do francês acadiano, uma variante do francês arcaico diferente do francês québécois.


Também comemoram está data comunidades francófonas dos EUA e das demais províncias e territórios do Canadá, porém estes grupos são na maioria muito pequenos e muitos estão em risco de desaparecer. No Brasil, comemoramos o São João, este mesmo santo é oficialmente conhecido como patrono dos francos-canadenses e franco-americanos, e está posição é reconhecida pelo Vaticano desde 1908, quando o Papa Pio X proclamou Saint-Jean Baptiste patrono de todos os francófonos nascidos nas Américas, sobretudo canadenses e americanos, mas também caribenhos e sul-americanos.

Nosso São João teve milho doce também
A história do feriado de Saint-Jean Baptiste é importante e destacada, pois é apontado e reconhecido como o primeiro feriado oficial da França, São João se tornou muito importante para quase todos os católicos da Europa, viajando assim para o novo continente, com franceses, espanhóis, portugueses e demais católicos e se inserindo na cultura local das colônias fortemente, permanecendo até os dias de hoje, ou você pensa que o São João, festejado com arraial e festa do milho vieram de onde?

A festa é originária de uma celebração pagã de boas vindas ao verão, por isso está próxima da data do solstício de verão no hemisfério norte, em muitos lugares era, e ainda é comemorado com festivais de colheitas, e nas Américas coincide com a colheita do milho, com a cristianização da festa, surgiu o dia de São João para os brasileiros e La Fête de Saint-Jean Baptiste para os francófonos, e o milho está lá, e aqui em vários quitutes das festividades.

Nosso São João teve  Batata-doce québécois
No Brasil, quase não ouvimos falar desta ligação com os francófonos, lembro de saber disso ainda na Aliança Francesa e, mesmo assim muito por cima. Aqui no Canadá, não! É um evento muito importante, feriado em vários lugares, até pago no caso de Québec, e uma forma de lembrar a importância da cultura francófona e, de sua resistência perante inúmeras dificuldades e opressão pela cultura inglesa, que quase exterminou a língua francesa na América do Norte, sobretudo nos EUA e oeste canadense, e ainda hoje em dia a trata com certo desprezo e desrespeito.

Mais se atendo ao Canadá somente, com exceção de Québec, que teve uma história bem particuliar, a língua francesa foi proibida na maioria das províncias canadenses durante muito tempo, sendo proibido existir escolas de francês ou atendimento em francês em instituições públicas, textos oficiais em francês também foram proibidos certa época, o que causou muito sofrimento para famílias e comunidades inteiras que tiveram que ser anglisizadas à força de um dia para o outro.

Os anglófonos protestantes consideravam, <alguns ainda consideram>, os francófonos católicos cidadãos de segunda classe, inferiores em educação, formação e condições salariais. Em algumas regiões canadenses, os trabalhos mais braçais ou sujos eram comumente chamados de trabalho de francês, hoje em dia é raro você ouvir isso, pois a pessoa será enquadrada em crime de discriminação e racismo, mas se tiver intimidade ou souber perguntar vai escutar ainda e saber que este sentimento ainda está latente em muitos anglófonos. 

Com o tempo está situação mudou por força de leis, conquistadas com muitas batalhas e dificuldades pelos franco-canadenses e québécoises, e pela melhoria da situação financeira e educacional como um todo dos franco-canadenses, sobretudo dos quebequenses que deixaram de ter famílias super numerosas e foram estudar para conseguir sair da pobreza, <isso explica porque muitos quebequenses apoiam está greve que está acontecendo agora>, muita coisa melhorou mesmo após a luta do Québec pelo direito em ser um país  independente, e aos acordos feitos com o Governo Federal Canadense para evitar a separação, o que beneficiou todos os francófonos do Canadá. 

Mas, apesar de todos as vitórias e conquistas, a situação está longe de ser tranquila ou fácil, mesmo hoje em dia a situação dos francófonos ainda é de constante luta pela manutenção do seu direito de estudar, trabalhar e viver em sua língua maternal em uma ilha cercada de inglês, tanto no Québec como nas demais comunidades e focos de francofonia pela América do Norte. Em síntese, fora de Québec, Nouveau-Brunswick e partes de Ontário, praticamente é impossível viver somente com o francês, você precisará do inglês.

Algumas das nossas impressões das festividades em Ottawa e em Gatineau:

Gatineau

As pessoas saem as ruas vestidas com roupas azuis que simbolizam a cor da bandeira québécois e da francofonia, muita flor de Liz em bandeiras, canecas, copos, cadeiras, toalhas, o orgulho se ser québécois está a mil. Carros, motos, bicicletas, mochilas, casas, pessoas muitos estão decoradas com bandeiras e flor de Liz para lembrar e comemorar a data. Festivais de valorização da cultura e língua francesa estão acontecendo em várias partes da cidade, desfiles e festival do milho, banquetes e muita comilança.

Algumas pessoas fazem questão de vestir vermelho e estender a bandeira Canadense em vez da Québécois para protestar, normalmente são os anglófonos, que aqui na região chegam a ser 30 % da população em algumas áreas.

Claro que quisemos saber por que mudaram o nome do feriado de La Fête de Saint-Jean Baptiste para La Fête Nationale du Québec, e recebemos a seguinte explicação, quando a revolução tranquila ocorreu no Québec, uma das coisas que mais marcaram este momento e as gerações futuras foi a separação e mesmo repulsa à Igreja Católica e suas tradições como um todo, então como não acabar com o feriado mais importante para o québécois, que era um feriado católico, simples pensaram os políticos locais, acrescentamos mais um dia ao feriado e transformamos ele em uma festa nacional do Québec, e assim surgiu La Fête Nationale du Québec, que nada mais é do que o bom e velho São João, versão turbo, laica québécois.

Ottawa

Os franco-ontarienses também comemoram a data de 24 de junho como a Fête de Saint-Jean Baptiste, o clima de feriado não é tão grande como em Gatineau, festivais de música francófonas são divulgados e ocorrem em regiões francófonas da cidade, sobretudo em Vanier e em Orléans, mas também em outras áreas, infelizmente não podemos ir em todas, tentamos ir em uma mas no meio do caminho descobrimos que o ônibus que teríamos que baldear para continuar o trajeto não funciona no fim de semana <oh! Raiva, uma hora perdida dentro de um bus.>. O Festival de Orléans está sendo duramente criticado, (acho que amanhã deverá sair algo na mídia, pelo menos na francófona), por permitir que alguns cantores cantassem musicas em inglês, muitas vaias e gritos de cantem em français. Apoiado por nós, que achamos que se vamos a um festival que diz ser francófono, é para ouvir francês e não outro idioma, seja lá ele qual for.

O público geralmente muito educado não aceitou que em um festival francófono o inglês entrasse, os moradores estão se sentindo violentados, e contam que de uma região quase 100% francófona há 10 anos, hoje Orléans é uma das que mais vem sofrendo com o crescimento de Ottawa, e de sua massiva anglisização, hoje você encontra dificuldade em ser atendido em francês em muitos comércios locais, e o crescimento de condos na região está cada vez mais trazendo anglófonos que querem modificar as comissões escolares locais.  

Os franco-ontarienses de um modo geral, estão sofrendo muito nestes últimos anos com a falta de respeito do Governo de Ontário com os francófonos, assim como o posicionamento do Governo Federal com o mesmo tema, que é mínimo e pouco inclinado a ajudar a francofonia. O Governo de Ontário vem sistematicamente acabando com o atendimento em francês nos serviços provinciais, tentando fechar hospitais francófonos, cortando verba de comissões escolares francófonas, não exigindo mais bilinguismos em concursos públicos e em postos de chefia indicados, entre outras coisas.

Conversando com alguns franco-ontarienses percebemos que eles sentem lutar sozinhos contra tudo isso, eles dizem não ter quase apoio do Québec ou dos québécoises, o que é uma pena, pois o Québec deveria exercer uma liderança na francofonia que tem por direito devido ao tamanho de sua população e importância financeira e comercial, mas isso não ocorre de acordo com eles. Os franco-ontarienses dizem também não ser contentes com o Québec ter mudado o nome do festival de La Fête de Saint-Jean Baptiste para La Fête National du Québec, dizem que isso só isola mais os quebequenses e, tira força da francofonia como um todo.

C’est la vie...

Mais algumas fotos das decorações do feriado pela cidade de Gatineau:


muita gente colocou
bandeiras nas portas das casas

Alguns colocaram bandeirinhas como de São João

Vários carros estavam decorados e desfilando pela cidade

bandeirinhas enfeitando o hall de entrada da casa

carro decorado

bandeiras do Québec

A maior bandeira que eu vi,
reparem que é quase do tamanho da fachada da casa.

Uma singela bandeirinha na caixa do correio.

Um comentário:

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